Interser...


"Olhe esta folha de papel.
Se você for poeta, verá nitidamente uma nuvem nesta folha, passeando nesta folha de papel em branco.
Sem a nuvem, não há chuva.
Sem a chuva, as árvores não crescem.
Sem as árvores, não se pode produzir papel.
A nuvem é essencial para a existência do papel.
Se a nuvem não está aqui, a folha de papel também não está.
Portanto, podemos dizer que a nuvem e o papel "intersão".
"Interser" é uma palavra que ainda não se encontra no dicionário, mas se combinarmos o radical "inter" com o verbo "ser", teremos um novo verbo: interser.

Se examinarmos esta folha com maior profundidade, poderemos ver nela o sol.
Sem o sol, não há floresta. Na verdade, sem o sol não há vida.
Sabemos, assim, que o sol também está na folha de papel.
O sol e o papel intersão.
E se prosseguirmos em nosso exame, veremos o lenhador que cortou a árvore e a levou à fábrica para ser transformada em papel.
E vemos o trigo.
Sabemos que o lenhador não pode existir sem seu pão de todo o dia.
Portanto, o trigo que se transforma em pão também está nesta folha de papel.
O pai e a mãe do lenhador também estão aqui.
Quando olhamos dessa forma, veremos que sem todas essas coisas, esta folha de papel não teria condições de existir".
Por mais fina que esta folha seja, tudo o que há no universo está nela".
Monge Thich Nhat Hanh (Thây)

Este belo texto de Thây, nos convida a uma mudança de olhar. Um convite a um olhar profundo, para aquelas mesmas coisas simples, que lidamos todos os dias.

Se nos dermos conta, da infinidade de elementos que são absolutamente necessários co-existirem, para que as coisas mais banais da nossa vida aconteçam...ficaremos maravilhados na rede complexa que acaba se formando, mesmo sem sabermos. Num instante nos damos conta de que a existência inteira opera para que mínimas coisas aconteçam.

O interser é total, absoluto, indispensável.
Quando nossa consciência se expande, e percebemos o que está "invisível" à nossa volta, ficaremos impressionados na grandeza que nos cerca...e mais, no mais absoluto silêncio, sem fazer alarde, sem buscar reconhecimento....nada.

O invisível aos olhos não significa inexistência.
Cada vez mais, percebemos que os olhos físicos, enxergam apenas uma ínfima parte de um Todo absoluto que trabalha, uma inteligência que opera em silêncio, quase invisível...mas absolutamente presente...

Nós também estamos absolutamente inter-relacionados.
As aparentes divisões, separações, são mesmo só aparentes, pois a inter-dependência é Total.
O Universo funciona como um infinito oceano. Somos suas ondas. Se na superfície aparecemos de formas mais diversas, na profundidade somos a mesma e unica essência / consciência.

Termino com um belo poema de Thây, que nos ilumina ainda mais, a consciência pura do interser, do intersomos...
"Você é eu, e eu sou você.
Não é obvio que nós "intersomos"?
Você cultiva a flor em você mesmo, para que eu seja belo.
Eu transformo o lixo que há em mim, para que você não tenha de sofrer.
Eu apóio você, você me apóia.
Estou neste mundo para te oferecer paz.
Você está neste mundo para me trazer alegria".
Amor
Lilian

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