Pérolas "pessoais"...


Pergunta: Repentinamente, encontrei-me livre de uma tensão, a qual não me deixava, embora muitas vezes tenha tentado de muitas maneiras libertar-me dela. Agora, embora nada tenha feito, ela se foi. Por que foi desta maneira? Por que abandonei, ou porque me esforcei duramente antes?

Karl Renz: O que quer que possa ser abandonado ou mantido, o que quer que possa ser feito ou não, levou você a isto.

Cada passo foi o passo certo para alcançar esse ponto, mas onde seus pés iriam pisar, nunca foi uma decisão sua.

Cada passo é o resultado de uma inter-relação infinita. Todas as coisas são relacionadas condicionalmente a outras.
Cada momento é uma pérola em um amontoado infinito de pérolas, onde cada uma é dependente das demais.

P: Ou um colar de pérolas.

Karl: O colar seria uma história pessoal.
Mas o passado é essencial para o futuro? Ou é simplesmente uma inter-relação na qual tudo existe simultaneamente, nunca vindo e nunca indo? Um colar é um cordão individual de pérolas.
Algumas pérolas foram selecionadas e unidas, uma depois da outra, como momentos pessoais.
Alguém as pendura em torno do pescoço e diz: “Meu colar...minha história... meu passado...meu futuro...minha vida!”. Tal colar é pesado, muito pesado!

Mesmo para um ‘eu’, ele é insuportável.

É por isto que o ‘eu’ constantemente mexe com ele, para fazê-lo mais belo e delicado; para brilhar mais ou mesmo, talvez, mais discretamente, para que pareça menos óbvio!

P: Até que o ‘eu’, finalmente, abandone o colar.
Karl: Para o ‘eu’ é impossível abandoná-lo. Ele não pode deixá-lo ir. O colar existe porque o ‘eu’ existe.
E o ‘eu’ existe apenas por causa do colar. São pré-requisitos inseparáveis um do outro.

P: Então há apenas uma possibilidade – devem desaparecer simultaneamente.
Karl: A única possibilidade é perceber que eles nunca existiram, nem o ‘eu’ nem o colar.

P: Você quer dizer que não há nenhuma história pessoal, nenhuma sequência de momentos?
Karl: Você é aquilo que é sem sequência e sem condição. Não é divisível em momentos. Não é parte de nada. É sempre anterior a tudo.

P: Nem mesmo um amontoado de pérolas?
Karl: É anterior ao amontoado de pérolas, e alegra-se quando você tropeça nisto.
Diálogos com Karl Renz em A Miragem da Iluminação

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