Deus somente - Ramana


"Pergunta: Deus é descrito como manifesto e não-manifesto. No primeiro caso Ele é dito incluir o mundo como parte de Seu Ser. Se for assim, nós como parte deste mundo, deveríamos facilmente tê-Lo conhecido na forma manifesta.
Ramana: Conheça a si mesmo antes de procurar decidir sobre a natureza de Deus e do mundo.

P: Conhecer a mim mesmo implica em conhecer a Deus?
Ramana: Sim, Deus está dentro de você.
P: Então, o que se coloca no meu caminho de conhecer a mim mesmo ou conhecer Deus?
Ramana: Sua mente errante e seus modos pervertidos.

P: Deus é pessoal?
Ramana: Sim, ele é sempre a primeira pessoa, o Eu, permanecendo sempre diante de você. Por você dar precedência às coisas mundanas, Deus parece ter recedido para o pano de fundo. Se você abandonar tudo e buscar apenas Ele, e somente Ele, Ele irá permanecer como o 'Eu', o Ser.

P: Deus está separado do Ser?
Ramana: O Ser é Deus, o “eu sou” é Deus. Essas perguntas surgem porque você está se segurando ao ser-ego. Elas não surgirão se você se segurar no verdadeiro Ser. Pois o Ser real não irá perguntar e nem pode perguntar o que é absurdo. Somente Deus, que parece ser não-existente, verdadeiramente existe, enquanto que o indivíduo, que parece estar existindo, é sempre não-existente. Os sábios dizem que apenas o estado no qual a pessoa conhece sua própria não-existência (sunya) é o glorioso conhecimento supremo.
Agora você pensa que você é um indivíduo, que existe o universo e que Deus está além do cosmos. Portanto, há a idéia do sentido de separação. Essa idéia deve ir. Pois Deus não está separado de você ou do cosmos.

O Gita também diz:
"O Ser sou Eu, ó Deus do sono,
Alojado no coração de cada criatura.
Sou o alvorecer e o meio-dia de toda forma,
Também sou seu destino final."
(Bhagavad Gita, X – 20)

Portanto, Deus não apenas está no coração de todos, ele é o suporte de todos, a fonte de todos, a morada e o fim de todos. Tudo procedeu Dele, tem sua estada Nele, e finalmente se resolve Nele. Portanto, Ele não está separado.

P: Como devemos entender esta passagem do Gita: 'Todo este Cosmos forma uma partícula de mim”?
Ramana: Isso não significa que uma pequena partícula de Deus se separa Dele e forma o universo. Seu poder (Shakti) está agindo. Como resultado de uma fase dessa atividade o cosmos tornou-se manifesto. Similarmente, a afirmação no Purusha Sukta, 'Todos os seres formam um pé Dele', não significa que Brahman está dividido em várias partes.

P: Entendo, Brahman certamente não é divisível.
Ramana: Portanto, o fato é que Brahman é tudo e permanece indivisível. Está sempre realizado mas o homem não está ciente disso. Ele deve chegar a saber disso. Conhecimento significa vencer os obstáculos que obstruem a revelação da eterna verdade que - o Ser é o mesmo que Brahman. Os obstáculos tomados juntos formam a sua idéia de separatividade como um indivíduo.

P: Deus é o mesmo que o Ser?
Ramana: O Ser é conhecido por todo mundo, mas não claramente. Você sempre existe. A existência é o Ser. O “eu sou” é o nome de Deus. De todas as definições de Deus , nenhuma, de fato, é tão bem colocada quanto a afirmação Bíblica “Eu sou aquele Eu sou” no Êxodo 3. Existem outras afirmações, como no Brahmaivaham (Brahman sou Eu), Aham Brahmasmi (Eu sou Brahman) e Soham (Eu sou Ele). Mas nenhuma é tão direta como o nome de Jeová que significa “eu sou”. O Ser absoluto é o que é. Ele é o Ser. É Deus. Ao conhecer o Ser, Deus é conhecido. De fato, Deus não é nada além do que o Ser.

P: Deus é conhecido por muitos nomes diferentes. Algum deles é justificado?
Ramana: Dentre os milhares de nomes de Deus, nenhum nome se adequa a Deus - o qual reside no Coração, desprovido de pensamento - tão verdadeira e lindamente quanto o nome “Eu” ou “eu sou”. De todos os nomes conhecidos de Deus, o nome de Deus “eu” - “eu” apenas ressoará triunfante quando o ego for destruído, emergindo como a suprema palavra silenciosa (mouna-para-vak) no espaço do Coração daqueles cuja atenção está direcionada para a tutela do Ser.
Mesmo se a pessoa meditar incessantemente no nome “eu-eu” com sua atenção no sentimento “eu”, isso levará a pessoa e a submergirá na fonte da qual o pensamento surge, destruindo o ego, o embrião, que está unido ao corpo.

P: Qual é a relação entre Deus e o mundo? Ele é o criador ou o sustentador dele?
Ramana: Os seres sencientes ou não-sencientes de todos os tipos estão realizando ações apenas pela mera presença do sol, que nasce no céu sem nenhuma volição. Similarmente, todas as ações são feitas pelo Senhor sem nenhuma volição ou desejo da parte Dele. Na mera presença do sol, as magníficas lentes emitem fogo, a flor de lótus desabrocha, a flor-de-lis se fecha e todas as incontáveis criaturas realizam ações e descansam.

A ordem da grande multidão de mundos é mantida pela mera presença de Deus da mesma maneira que a agulha se move diante de um imã, e a selenite emite água, a flor-de-lis desabrocha e o lótus se fecha diante da lua.
Na mera presença de Deus, que não tem a mínima volição, os seres vivos, que estão engajados em inúmeras atividades, após embarcarem em muitos caminhos para os quais são atraídos de acordo com o curso determinado por seus próprios karmas, finalmente realizam a futilidade da ação, voltam-se para o Ser e atingem a liberação.
As ações dos seres vivos não chegam ou afetam a Deus, o qual transcende a mente, da mesma maneira que as atividades do mundo não afetam o sol e as qualidades dos quatro elementos conspícuos (terra, água, fogo e ar) não afetam o espaço sem limites."
Ramana Maharshi em Os Ensinamentos de Ramana Maharshi em suas próprias palavras

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