Tudo o que existe é Consciência 1/2 - Ramesh Balsekar


"Pergunta: Existe Consciência no espaço físico entre você e eu?

Ramesh: Tudo o que existe é a Consciência. Você e eu somos meros objetos projetados neste espaço. 


Tudo o que há é a Consciência.
O espaço e o tempo são meros conceitos, um mecanismo para os objetos serem estendidos. Para os objetos tri-dimensionais serem estendidos o espaço é necessário. E o tempo é necessário para os objetos serem observados. 
A menos que aquele objeto seja observado, ele não existe.

Então o espaço e o tempo são meramente conceitos, um mecanismo, criado para esta manifestação acontecer e ser observada.

É incrível o quanto nos últimos poucos anos, comparativamente, a ciência deslanchou. A ciência diz a mesma coisa. Ela diz que o tempo e o espaço não são reais. Acho que foi o Sr. Fred Hoyle que disse: “Se você pensa que há um passado indo para o futuro ou futuro indo para o passo, você não poderia estar mais errado. Não pode existir tal fluxo. Está tudo aí, agora.”

A metáfora mais próxima que posso sugerir é esta: Se há uma pintura de uma milha de comprimento e dez andares de altura, está tudo lá, mas para você poder vê-la do início até o fim levaria algum tempo. Porque não conseguimos ver a figura toda num relance, a mente humana não é capaz disso, pensamos em termos de tempo. Mas a coisa toda está aí.

Pergunta: E como você disse, não vemos a figura toda, estamos vendo apenas uma pequena parte dela.

Ramesh: Parte por parte. Então até você chegar ao fim o tempo transcorreu. O conceito de tempo transcorreu.

Pergunta: Então, na realidade estamos limitados pelo tempo e o espaço?
Ramesh: Correto. Limitados pelo tempo, pelo espaço e pelo intelecto.(...)

Pergunta: Há um ditado Zen: “Quando você carrega água, carregue água.”
Ramesh: Sim! Assim como um mestre Zen que disse: “Se você quer a iluminação vá lavar os pratos.” O que quer dizer que quando você lavar os pratos, não lave-os com suas mãos enquanto sua mente está vagando por toda parte.

Participante: Com ressentimento.

Ramesh: Isso não é lavar pratos. O sábio, o homem de sabedoria, tem uma atitude básica de trabalho e de vida de uma confiança respeitosa com relação à natureza e à natureza humana, a despeito das guerras, das revoluções, da fome, do aumento da criminalidade e todos os tipos de horrores. Ele não está preocupado com a noção de um pecado original e nem tem o sentimento de que a existência, samsara mesmo, é um desastre. Seu entendimento básico tem a premissa de que se você não pode confiar na natureza e nas outras pessoas, você não pode confiar em você mesmo.

Sem essa confiança como pano de fundo, uma fé no funcionamento da Totalidade, em todo o sistema da natureza, ficamos simplesmente paralisados. Afinal, não é realmente uma questão de você estando de um lado e a confiança na natureza de outro. Na verdade é uma questão de perceber que nós e a natureza somos um e o mesmo processo, não entidades separadas. Você não pode omitir um inteiro sem perturbar o sistema todo.

Em outras palavras, o universo é um processo orgânico e relacional, não um mecanismo. Ele não é de maneira nenhuma análogo a uma hierarquia política ou militar onde há um comandante supremo. Ele é múltiplo, uma rede multi-dimensional de jóias, cada uma contendo o reflexo de todas as outras. É assim que o universo tem sido descrito. Cada jóia é uma coisa-evento e entre uma coisa-evento e outra não há obstrução. A mútua interpenetração e interdependência de tudo no universo. É por isso que o Chinês diz: “Arranque uma folha de grama e você chacoalhará o universo.”

O princípio básico dessa visão orgânica do universo é que o cosmos está implícito em cada membro dele e cada ponto dele pode ser considerado como um centro. A compreensão perfeita é um holofote de luz no universo todo em seu funcionamento, exibindo-o como uma harmonia de padrões intrincados. Enquanto que a visão-lanterna da mente dividida da entidade individual ilusória vê apenas cada padrão por si mesmo, parte por parte, e conclui que o universo é uma massa de conflito. É uma visão-lanterna limitada que daria um senso de horror ao normal fenômeno universal de uma espécie no mundo biológico sendo a comida de outra. A perspectiva mais ampla, a do holofote, é a compreensão perfeita e ela veria as coisas como elas são.

O nascimento e a morte não são nada além de integração e desintegração, o aparecimento e o subsequente desaparecimento dos objetos fenomenais na manifestação. A compreensão verdadeira, a apercepção, inclui a compreensão de que não existe separação entre a compreensão e a ação. (...)

Pergunta: A utilização do termo “evolução espiritual” pressupõe um envolvimento com o tempo.
Ramesh: De fato, é claro. Todo o processo é na fenomenalidade tempo-espaço.

Pergunta: O que é isso que está envolvido com o tempo, é o mecanismo corpo-mente?

Ramesh: Não. O que está envolvido no tempo-espaço é a Consciência identificada, a Consciência que deliberadamente identificou-se com um organismo individual.

Pergunta: Por que isso ocorreu?

Ramesh: Para que esse lila, esse jogo, esse sonho cósmico pudesse acontecer. Esse processo de identificação é contínuo. Novas criaturas, novos seres humanos estão constantemente sendo criados e neles a identificação acontece. Essa identificação prossegue num processo de evolução. Em algum ponto a mente volta-se para dentro e o processo de desidentificação se inicia. Esse processo leva muito tempo e muitos nascimentos. Todo o jogo é identificação, depois a mente volta-se para o interior e então dá-se o processo de desidentificação. Saiba você, tudo isso é um conceito, mas pode ajudar a trazer a compreensão final.

Pergunta: Esse voltar-se para dentro é um meio de ignorar o ego?

Ramesh: Não. O voltar-se para o interior pode apenas acontecer, você vê. O voltar-se para dentro é esse processo de evolução espiritual. A evolução ocorre em todas as coisas. Há a evolução física, há a evolução na música, na arte, na ciência e há evolução espiritual.


Nessa evolução espiritual, há primeiro a identificação que ocorre através de muitos milhares de organismos corpo-mente. Quero dizer, poderiam ser centenas de milhares ou milhões, esse não é o ponto mas é que ocorre através de diversos organismos corpo-mente. E num certo organismo corpo-mente o voltar-se para dentro irá acontecer. Um pensamento ocorre ou um evento ocorre ou algo acontece, e com isso como uma aparente causa, a mente volta-se para dentro. 
E em vez da mente ir para fora, querendo mais e mais objetos materiais, a mente volta-se para dentro e quer conhecer sua natureza real: 
“Quem sou eu? O que estou fazendo aqui? Qual é o sentido da vida?” Então o processo de desidentificação começa. A busca espiritual nessa evolução começa com a mente voltando-se para dentro e o indivíduo começando a buscar. E essa busca, que na verdade é o processo de desidentificação, continua através de vários processos na evolução. De um tipo de busca você vai para outro tipo de busca e passa por muitas frustrações, até que finalmente há uma compreensão repentina de que nenhum “indivíduo” jamais pode ser iluminado. 

A iluminação, sendo um acontecimento impessoal, pode acontecer apenas através de um objeto. Para qualquer evento poder acontecer um objeto é necessário. Assim, quando a iluminação está para acontecer um organismo corpo-mente que está pronto para receber essa iluminação é criado nesta evolução. Ele tem as características físicas, mentais, temperamentais, que tornam esse organismo corpo-mente capaz de receber a iluminação. E esse próprio organismo corpo-mente é um processo de evolução.

O início dessa compreensão, na duração, é a aceitação de que a iluminação pode não acontecer através deste organismo corpo-mente. Para um buscador é uma coisa muito difícil de aceitar, para um indivíduo buscador, mas esse é um marco importante nesse processo na dualidade. Então um “abrir mão” acontece e há um tremendo sentido de liberdade. “Se eu não posso ter a iluminação e se um objeto não pode ser iluminado, o que estou buscando?”
De modo que esse “abrir mão” acontece e essa identificação com este corpo-mente, esse “eu”, fica mais fraca. Mas um certo salto quântico acontece no processo. E o salto quântico final, que está logo antes da iluminação, é este: “não há mais busca, não há mais preocupação se a iluminação vai acontecer ou não.” Quando essa aceitação surge, o “eu” praticamente já se foi. Porque é o “eu” que é o buscador, não o organismo corpo-mente. O organismo por si mesmo é apenas um objeto inerte, necessário para a iluminação acontecer.

Pergunta: O “eu” é o “eu” enquanto houver o buscador, correto?

Ramesh: Sim, correto. Então quando a busca desaparece, o “eu” buscador também desaparece.

Pergunta: Então, esse é o ponto final, a evolução de “eu”?

Ramesh: Sim. O “eu” evolui, mas não esse “eu”.

Pergunta: Sei, quero dizer coletivamente.

Ramesh: Sim, como disse, um “eu” chamado Albert Einstein foi evoluído para a teoria da relatividade. Mas apenas para a teoria da relatividade. Para uma subsequente evolução na ciência, outros corpos-mentes foram criados. Einstein não estava pronto para aceitar o desenvolvimento ulterior da teoria quântica. Ele não podia aceitar a teoria da incerteza de Heisenberg. Einstein disse que essa teoria da incerteza significava que “Deus estava jogando dados com o universo.” Ele disse que ele não podia aceitar que Deus estava jogando dados com o universo. Niels Bohr respondeu: “Deus não está jogando dados com o universo. Nós pensamos isso porque não temos todas as informações que Deus tem!” [ continua....]

Ramesh Balsekar em Consciousness Speaks

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