Testemunhar - Osho


"Não sou eu que faz nem o que experimenta.
Sou apenas uma testemunha de toda manifestação.
Por estar próxima a eles é que o corpo e tudo o mais parecem conscientes 
e funcionam  de acordo com essa consciência.
Sou o imutável, o eterno.
Sou a morada perpétua da bênção, da pureza e do conhecimento.
Eu Sou todo-poderoso.
Sou a alma pura que como testemunha
se acha em todos os seres sensíveis.
Quanto a isso, nenhuma dúvida resta."
~Sarvasar Upanishad~


"O eu-testemunha, jamais é sentido. Sempre percebemos uma certa identidade, uma certa identificação. E a consciência  que testemunha é a realidade. Por que isso acontece? E como?

Você está sofrendo - o que realmente acontece dentro de você? Analise o fenômeno todo. O sofrimento está ali e há a consciência que está ali. Estes são os dois pontos a considerar: a presença do sofrimento e a consciência da presença do sofrimento. Mas não existe espaço entre as duas coisas, por isso, o que sinto é " Eu estou sofrendo." E não só: cedo ou tarde, isso se transforma em "Eu sou sofrimento".

"Eu sou sofrimento, eu estou sofrendo, eu estou consciente de que sofro" - esses são três estados diferentes, muito diferentes. O rishi diz: "Estou consciente de que sofro". Isso é possível quando se transcende o sofrimento. A consciência o transcende. Você é diferente dele, há entre você e ele uma profunda separação. Na verdade, nunca houve qualquer vínculo entre ambos; o vínculo se estabeleceu somente por causa da proximidade, por causa da íntima contiguidade de sua consciência e do que acontece ao redor.

A consciência está muito próxima; quando você não sofre, ela se posta nas imediações. Tem de ser assim, do contrário o sofrimento não pode ser evitado, a dor não pode ser curada. A consciência precisa estar por perto para sentir a dor, conhecê-la, percebê-la. No entanto, justamente por causa dessa proximidade, você se identifica com ela, torna-se um com ela. É, de novo, uma medida de segurança, de proteção natural. Quando há dor, você tem de estar nas vizinhanças, quando há dor, sua consciência precisa correr em direção a ela - para senti-la ou evitá-la.
Você está andando pela rua e vê uma cobra à sua frente - toda sua consciência se transforma num pulo. Nem um segundo pode ser perdido, sequer para pensar no que fazer. Não há espaço entre a percepção e a ação. Você precisa estar muito perto, do contrário isso não acontece. Quando seu corpo sofre dor, doença, desconforto, você precisa estar perto; do contrário, a vida se interrompe. Se você estiver longe e não sentir a dor, morrerá. A dor tem de ser sentida imediatamente, sem intervalo. A mensagem tem de ser recebida na hora, para que sua consciência corra até o local e faça alguma coisa. Por isso, a contiguidade é necessária.

Todavia, em decorrência dessa necessidade, outro fenômeno ocorre - muito perto você se torna um; muito perto, você começa a sentir que "isto sou eu, esta dor sou eu, este prazer sou eu". Em consequência da proximidade, ocorre identificação; você se torna cólera, amor, sofrimento, alegria.
O rishi ensina que há duas maneiras de você se dissociar dessas falsas identidades. Você não é o que pensava, sentia, imaginava, projetava.

Você é pura e simplesmente, o fato de estar consciente. O que quer que aconteça, permanece apenas consciência. Você é consciência, uma identidade que não pode ser rompida. Que não poder ser negada. Tudo o mais pode ser negado, repelido. A consciência  continua sendo o substrato último, a base primordial. Você não pode negá-la, repeli-la, dissociar-se dela.

Eis o processo: aquilo que não pode ser jogado fora, que não pode ser isolado de você é você; aquilo que pode ser isolado de você não é você. A dor se apresenta; um momento depois pode desaparecer, mas você não. A alegria veio e se foi; existia e não existe mais - mas você existe. O corpo é jovem, e depois envelhece...Tudo vem e vai; os convidados entram e saem, mas o anfitrião fica onde está.

Por isso os místicos zen dizem: não se perca na multidão dos convidados. Lembre-se de que você está na condição de anfitrião e de que essa condição é consciência. O anfitrião é a consciência que observa. Qual é o elemento básico que permanece sempre o mesmo em você? Seja apenas ele e rompa a identificação com tudo aquilo que vem e vai. Sucede, porém, que nos identificamos com os convidados: o anfitrião está tão ocupado com eles que esquece de si mesmo.(...)

Isso acontece com todos nós. O anfitrião se perde, é esquecido a todo instante. O anfitrião é o seu eu-testemunha. A dor vem e o prazer vem atrás, há desespero e alegria. E, a todo instante você se identifica com o que vem; torna-se o convidado. Não se esqueça do anfitrião. Em presença do convidado, lembre-se do anfitrião.

Há muitos tipos de convidados, os agradáveis, os insuportáveis - convidados de quem você gosta, convidados de quem você não gosta, convidados que gostaria de receber, convidados que gostaria de evitar. Mas são todos convidados.
Lembre-se do convidado. Nunca se esqueça dele. Concentre-se nele. Permaneça no seu papel de anfitrião. Assim haverá separação, espaço, intervalo; a ponte caiu. No momento em que a ponte cai, o fenômeno da renúncia ocorre. Então você está nele, não é ele. Então você está no convidado sem deixar de ser anfitrião. Você não precisa fugir do convidado, não há nenhuma necessidade disso.

Assim, você pode estar na multidão e sozinho. Se não conseguir ficar sozinho na multidão, jamais conseguirá ficar sozinho em parte alguma, pois a capacidade de isolar-se na multidão é necessária para isolar-se quando realmente não houver ninguém por perto. De outro modo, se você não puder estar sozinho na multidão, a multidão ficará com você quando estiver sozinho. A mente se tornará ainda mais lotada, já que tende a sentir mais a ausência que a presença.

Se a criatura amada estiver presente, você pode esquecê-la com muita facilidade. Mas se não estiver, não consegue esquecê-la. A mente tende a sentir mais a ausência porque, com a ausência vem o desejo. Então, a mente sente a ausência, do contrário não poderia desejar. Se você esquecer a ausência, o desejo se tornará impossível. Assim, esquecemos as presenças e continuamos sentindo ausências. O que não existe é desejado; o que existe é ignorado.
Nesse caso, quando estiver sozinho, a multidão o acompanhará, o seguirá. Se fugir dela, ela o perseguirá. Portanto, não tente escapar - é impossível. Fique onde está, mas não se concentre no convidado, concentre-se em você mesmo. Lembre-se do anfitrião, que é você em toda a sua pureza. Não se apaixone pelo convidado nem o odeie.

Realmente, o termo apaixonar-se ( to fall in love ) é muito bom. Por que "cair" ( to fall ) ? Por que não levantar-se (to rise ) ? Ninguém se levanta no amor, todo mundo cai no amor. Por quê? Qual o motivo dessa queda? Realmente, no momento em que ama ou odeia, você cai de sua condição de anfitrião. Renega essa condição. Torna-se o convidado. Isso é sofrimento, isso é confusão, isso é escuridão.

Onde quer que você esteja - fazendo alguma coisa, não fazendo, sozinho, na multidão, ativo, inativo - não se esqueça do anfitrião. "O que acontece, seja lá o que for, é apenas o convidado e eu sou o anfitrião". E não se identifique com nada. A cólera entra; lembre-se: você é o anfitrião, a cólera não passa de um convidado. Ela entrou e vai sair. (...)

Portanto, concentre-se em seu anfitrião e lembre-se: nada acontece a você. Tudo o que acontece são os convidados, os visitantes; eles vêm e vão. E é bom que façam isso: assim, você se enriquece, se torna mais maduro. Mas não os siga, não se deixe envolver por eles, não se torne um com eles. Não ame, nem odeie, não se identifique com nada.
Permaneça o anfitrião, pois assim o acontecimento final sobreviverá, a explosão final se tornará possível.
Depois que a alma-testemunha for conhecida, você nunca mais será o mesmo. O mundo inteiro desaparecerá e você se transfundirá numa nova dimensão de bem-aventurança. Identificação é sofrimento; não identificação é bem-aventurança.
Amar ou odiar o convidado é sofrimento. Transcendê-los e concentrar-se em si mesmo é bem-aventurança."
Osho em Os Upanishads, a essência de seus ensinamentos.



Hoje o amado Osho estaria completando mais um aniversário.
Deixo aqui a minha sincera homenagem, em profunda gratidão 
por tanta luz, sabedoria, alegria e amor
compartilhados com milhões de pessoas
ao longo de sua vida...

Hare Om Osho!
Namastê!


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